domingo, 13 de julho de 2008


Eduardo Reis *discorre abaixo acerca do tempo de cada um e do tempo do mercado, sobre como temos que lidar com os diversos tempos e principalmente traça um panorama geral sobre os tempos da nossa sociedade atual.





Nietzsche: O tempo da Cultura (apontamentos)



Texto escrito pelo meu orientador, José Carlos Bruni sobre Nietzsche, do qual fiz uma resenha para discutir nesse blog as questões da modernidade.



No livro Aurora, Nietzsche fala sobre a questão do tempo lento da filosofia, e do tempo da pressa.
“A filosofia é efetivamente essa arte venerável que exige de seu admirador antes de tudo uma coisa: afastar-se, dar-se tempo, tornar-se silencioso, tornar-se lento, como um conhecimento de ourives aplicado à palavra, que tem de fazer seu trabalho fino e cuidadoso e nada alcança se não alcança lentamente. É precisamente nisso que ela é hoje mais necessária do que nunca, é justamente nisso que ela nos atrai e nos encanta no mais alto grau, numa época de ‘trabalho’, quero dizer: na época da pressa, de indecente e suada velocidade, que quer ‘acabar logo com tudo’ e também com todos os livros, velhos ou novos.”







Nietzsche fala da vida como arte, ou seja, o que ele propõe é que façamos de nossas vidas, uma vida de arte, e isso se faz preciso em nossos dias e para qual é imprescindível ser quase uma vaca e não um ‘homem moderno’: o ruminar... A cultura diminui a cada dia porque a pressa torna-se maior.



A cultura moderna constitui-se como negação da verdadeira cultura, em primeiro lugar por instituir um tempo acelerado e agitado, oposto a qualquer forma de tranqüilidade. Em Humano, demasiado humano, Nietzsche escreve no aforismo 285: “A intranqüilidade moderna. – Á medida que andamos para o Ocidente, se torna cada vez maior a agitação moderna, de modo que no conjunto os habitantes da Europa se apresentam aos americanos como amantes da tranqüilidade e do prazer, embora se movimentem como abelhas ou vespas em vôo. Essa agitação se torna tão grande que a cultura superior já não pode amadurecer seus frutos; é co mo se as estações do ano se seguissem com demasiada rapidez... Por falta de tranqüilidade, nossa civilização se transforma numa nova barbárie. E em nenhum outro tempo os ativos, isto é, os intranqüilos, valeram tanto. Logo, entre as correções que necessitamos fazer no caráter da humanidade está fortalecer em grande medida o elemento contemplativo”




Mas como se pode compreender o processo pelo qual o mundo moderno chegou a esse ponto? A resposta está “num dos dogmas da economia política mais caras do tempo presente. Tanto conhecimento e tanta cultura quanto possível – portanto tanta produção e tantas necessidades quanto possível - , portanto tanta felicidade quanto possível: eis mais ou menos a fórmula. Nós temos aqui como objetivo e finalidade da cultura a utilidade ou mais exatamente o lucro, o maior ganho possível de dinheiro (...) ‘A união da inteligência e da propriedade’ que é posta como principio nessa concepção de mundo toma valor de exigência moral. Chega-se a odiar toda cultura que favorece o solitário, que propõe fins além do dinheiro ou do lucro, que exige muito tempo.(...) A moral que está aqui em vigor exige claramente qualquer coisa de inverso, a saber uma cultura rápida, para que se possa tornar-se um ser que ganhe dinheiro, mas também uma cultura suficientemente aprofundada para que se possa tornar-se um ser que ganhe muito dinheiro.” Mas não é apenas o afã de lucro que representa um perigo mortal para a cultura. Nietzsche fala do “egoísmo do estado”.



É em A Gaia Ciência que Nietzsche alcança a formulação mais abrangente de toda essa problemática que ao mesmo tempo a resume e a amplia num enfoque propriamente sociológico: “Lazer e ócio – Há uma selvageria pele-vermelha, própria do sangue indígena, no modo como os americanos buscam o ouro: e a asfixiante pressa com que trabalham – o vício peculiar ao Novo Mundo – já contamina a velha Europa, tornando-a selvagem e sobre ela espelhando uma singular ausência de espírito. As pessoas já se envergonham do descanso; a reflexão demorada quase produz remorso. Pensam com o relógio na mão enquanto almoçam, tendo olhos voltados para boletins da bolsa – vivem como alguém que a todo instante poderia ‘perder algo’, ‘Melhor fazer qualquer coisa do que nada’, - este princípio é também uma corda, boa para liquidar toda cultura e gosto superior




Pois viver continuamente à caça de ganhos obriga a despender o espírito até a exaustão, sempre fingindo, fraudando, antecipando-se aos outros: a autêntica virtude, agora, é fazer algo em menos tempo que os demais. (...) Se ainda há prazer com a sociedade e as artes, é o prazer que arranjam para os escravos exaustos de trabalho. Que lástima essa modesta ‘alegria’ de nossa gente culta ou inculta! Que lástima essa desconfiança crescente de toda alegria!
Nietzsche diz que o mundo moderno é um mundo sem espírito porque é um mundo sem tempo para o espírito.



Em O viandante e sua sombra, aforismo 189 (A árvore da humanidade e a razão) Nietzsche nos convida a comparar a humanidade a uma grande árvore que dá bons frutos se for bem cuidada e tratada. E por mais que os homens ainda sejam governados por instintos cegos, sempre haverá indivíduos que, de alguma maneira, alcançam a sabedoria – e conclui: “Nossa tarefa grandiosa consiste em preparar a terra para receber uma planta da maior e mais formosa fecundidade – uma tarefa da razão para a razão!”





* Eduardo Reis é ator formado pela Escola Livre de teatro de Santo André, é mineiro e vive a mais de 10 anos em São Paulo. Já participou de diversos projetos artísticos e atualmente cursa o ùltimo ano da faculdade de filosofia da faculdade do Mosteiro de São Bento e dirige junto ao lado Flávia Couto a performance "Escada" que teve sua última apresentação dentro da Virada Cultural de São Paulo deste ano.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ex boiola, Trouxa. Quer aparecer, põe uma melancia na cabeça.

Coelho Azul disse...

Oi Júlio,

Sou o Marcelo, da Central de Notícias Gays.

Tudo certinho com você?

Pode me passar seu MSN pra gente conversar um pouco?

O meu é coelho-azul@hotmail.com

Um abraço.